O site do Poéticas da Experiência passa a compartilhar, quinzenalmente, breves curadorias feitas pelos pesquisadores (alunos e professores) do grupo, em diálogo direto ou indireto com suas pesquisas.
Algo se enerva para além de mim, parte de um sol em luto, talvez por ser o nada o eixo de tudo: o sal sobre a pedra, um caracol à deriva - e em cada parte um nome-corpo exato no que hesita. (Edimilson de Almeida Pereira)
De uma forma ou de outra, a curadoria sempre esteve presente entre os participantes do Poéticas, não apenas porque as pesquisas, não raro, se traduzem em mostras e exibições em festivais e cineclubes, mas também porque montagem e remontagem são procedimentos comuns tanto no trabalho curatorial, quanto no trabalho de pesquisa. Trata-se, nesse caso, menos de julgar e selecionar obras estéticas, do que de compor com elas um pensamento, instaurar com elas processos de rememoração, retomar pequenas histórias, produzir agenciamentos políticos entre as imagens e o mundo. Ali, entre luto e luta, entre opressão e fabulação, algo se inquieta, “se enerva para além de mim”: quando não são tomadas pela bolsa de valores dos nomes e das apostas, nem pelo cálculo abstrato da produção acadêmica, curadoria e pesquisa são atividades que podem nascer dessa inquietude: contribuem para dar a ver mundos e saberes invisibilizados, memórias apagadas; vidas que existem, persistem, que inventam e imaginam outras histórias e formas de futuro. Ou, como sugere ainda o poema de Edimilson de Almeida Pereira, nomes-corpos exatos no que hesita.
Damos início a essa série com Fight the power: breve história do videoclipe político, curadoria criada por Eduardo de Jesus e Luís Flores, a quem agradecemos! Reunindo videoclipes históricos e recentes, o percurso proposto não se quer exaustivo, mas nos permite vislumbrar o modo como, por meio deste objeto híbrido e contraditório da cultura pop, as lutas políticas (principalmente aquelas contra o racismo) se inscrevem no cotidiano, na memória individual e coletiva.